Fratura da clavícula

Introdução

A fratura da clavícula é uma lesão comum, representando cerca de 5% de todas as fraturas no adulto. A clavícula conecta o esterno à escápula, desempenhando um papel crucial na mobilidade e estabilidade do ombro.

As fraturas podem ocorrer em diferentes regiões da clavícula, sendo classificadas de acordo com a localização: fraturas do terço médio, fraturas do terço distal (ou lateral) e fraturas do terço proximal (ou medial).

Fratura do Terço Médio

A fratura do terço médio da clavícula é a mais comum, correspondendo a aproximadamente 80% dos casos. Ela geralmente ocorre por trauma direto, como em acidentes de trânsito ou quedas sobre o ombro. Em muitos casos, o tratamento conservador, que envolve o uso de tipoias e restrição de atividades, é eficaz, levando à consolidação óssea em semanas.

No entanto, algumas fraturas podem ser deslocadas, o que aumenta o risco de má união (consolidação inadequada). Nestes casos, a intervenção cirúrgica com fixação por placas e parafusos pode ser indicada, especialmente em pacientes que desejam retornar rapidamente às atividades esportivas ou profissionais.

Radiografia de fratura do terço médio da clavícula com desvio

Fratura do Terço Lateral

As fraturas do terço lateral da clavícula, que correspondem a cerca de 15% dos casos, ocorrem mais próximas à articulação com a escápula. São mais desafiadoras para o tratamento, especialmente se o ligamento coracoclavicular for lesionado. Se houver deslocamento significativo da fratura, o risco de não união (quando o osso não consolida) aumenta, o que pode justificar a necessidade de cirurgia.

O tratamento conservador ainda pode ser tentado em fraturas não deslocadas ou com baixo risco de complicações. No entanto, fraturas mais graves do terço lateral geralmente exigem fixação cirúrgica para restaurar a anatomia e a função adequadas do ombro.

Fratura do Terço Medial

As fraturas do terço medial da clavícula são raras, representando menos de 5% dos casos. Elas ocorrem próximas à articulação com o esterno e podem estar associadas a outras lesões, como lesões vasculares ou pulmonares, devido à proximidade com estruturas vitais. A maioria dessas fraturas é tratada de forma conservadora, a menos que haja complicações associadas, como deslocamento significativo ou lesões concomitantes que necessitem de intervenção cirúrgica.

Tratamento

O tratamento das fraturas da clavícula depende de vários fatores, incluindo a localização da fratura, o grau de deslocamento e as necessidades funcionais do paciente.

Tratamento Conservador

A maioria das fraturas não deslocadas, especialmente do terço médio, pode ser tratada de forma conservadora, com o uso de tipoia ou imobilizador, restrição de atividades e reabilitação.

Tratamento Cirúrgico

O tratamento cirúrgico das fraturas de clavícula é geralmente indicado em casos de fraturas com deslocamento significativo, fraturas expostas ou quando há comprometimento neurovascular. A cirurgia tem como objetivo alinhar os fragmentos da fratura e fixá-los para permitir uma cicatrização adequada, restabelecendo a função normal do ombro.

Indicações para Cirurgia

  • Fraturas desviadas: Quando os fragmentos ósseos estão significativamente desalinhados.
  • Fraturas expostas: Quando há ruptura da pele, expondo o osso.
  • Comprometimento neurovascular: Quando a fratura afeta nervos ou vasos sanguíneos adjacentes.
  • Recuperação funcional acelerada: Pacientes que desejam retornar rapidamente a atividades físicas ou esportivas de alta demanda.

Técnicas Cirúrgicas

A técnica mais comum envolve a fixação da clavícula com o uso de placas e parafusos. As placas são posicionadas sobre o osso fraturado e parafusadas, garantindo a estabilidade durante o processo de cicatrização. Em alguns casos, especialmente nas fraturas do terço lateral, pode ser necessário o uso de enxertos ósseos para melhorar a estabilidade e amarrilhos entre a clavícula e o coracoide.

Vantagens do Tratamento Cirúrgico

  • Cicatrização mais rápida: A fixação estável da fratura permite uma recuperação mais rápida, com retorno precoce às atividades diárias e esportivas.
  • Risco reduzido de não união: A cirurgia diminui as chances de complicações, como a não união dos fragmentos ósseos.
  • Melhor alinhamento: A cirurgia permite uma correção anatômica mais precisa da clavícula, o que pode resultar em menor risco de deformidades a longo prazo.

O tratamento cirúrgico da fratura de clavícula oferece uma solução eficaz para fraturas mais complexas, com bons resultados funcionais e taxas de sucesso elevadas. A escolha entre tratamento conservador ou cirúrgico deve ser feita com base na avaliação clínica e nas necessidades individuais do paciente.

Recuperação

O tempo de recuperação varia dependendo do tipo de fratura e do tratamento escolhido. A maioria dos pacientes tratados de forma conservadora tem um período de recuperação de 6 a 12 semanas. A cirurgia pode reduzir o tempo de retorno às atividades normais, especialmente em casos de fraturas deslocadas.

A reabilitação com fisioterapia desempenha um papel importante no retorno à função completa, ajudando a recuperar a amplitude de movimento e a força do ombro.

Riscos e Complicações

Embora a maioria das fraturas de clavícula cicatrize adequadamente com tratamento conservador ou cirúrgico, existem complicações possíveis, incluindo:

  • Não união: Quando a fratura não cicatriza adequadamente.
  • Má união: Consolidação inadequada da fratura, o que pode levar a deformidades.
  • Complicações neurológicas: Embora raras, as lesões aos nervos circundantes podem ocorrer, especialmente em fraturas do terço medial.
  • Complicações relacionadas ao implante: Em alguns casos, pode haver irritação da pele pelo material de fixação ou necessidade de retirada dos implantes após a cicatrização.
  • Infecção: Em casos de tratamento cirúrgico, há o risco de infecção na área operada.

Estudos indicam que a taxa geral de complicações pós-fratura de clavícula pode variar de 2% a 12%, dependendo do tipo de tratamento e da gravidade da fratura.

Referências

  • Robinson CM. Fractures of the clavicle in the adult. J Bone Joint Surg Br. 1998;80(3):476-484. doi:10.1302/0301-620X.80B3.8079
  • Hill JM, McGuire MH, Crosby LA. Closed treatment of displaced middle-third fractures of the clavicle gives poor results. J Bone Joint Surg Br. 1997;79(4):537-539. doi:10.1302/0301-620X.79B4.0790537
  • Lenza M, Faloppa F, Belloti JC. Conservative interventions for treating middle third clavicle fractures in adolescents and adults. Cochrane Database Syst Rev. 2014;5:CD007121. doi:10.1002/14651858.CD007121.pub3
  • Neer CS II. Fractures of the distal third of the clavicle. Clin Orthop Relat Res. 1968;58:43-50.
  • Altamimi SA, McKee MD. Nonoperative treatment compared with plate fixation of displaced midshaft clavicular fractures. J Bone Joint Surg Am. 2008;90(1):1-8. doi:10.2106/JBJS.G.01464
  • Postacchini F, Gumina S, De Santis P, Albo F. Epidemiology of clavicle fractures. J Shoulder Elbow Surg. 2002;11(5):452-456. doi:10.1067/mse.2002.126613
 

Posts relacionados

Direitos autorais reservados - Dr. Mauro Gracitelli. A reprodução parcial ou completa do texto, das imagens e dos vídeos é protegida por lei e proibida sem a autorização prévia do autor ou referência à fonte original desse site. Lei dos Direitos Autorais, de nº. 10.695, de 1º./7/2003.
Mauro Gracitelli
Médico especialista em ombro e cotovelo
www.maurogracitelli.com
Próximo
Próximo

Síndrome do Desfiladeiro Torácico